Ouça bem, menina


Leia ao som de Just a Little Bit of Your Heart, da Ariana Grande.


Eu tenho te observado quieta pelos cantos. Vi que, ainda esses dias, você chorou quando comentaram sobre o filme que estreou mês passado. Na verdade, tenho te observado, sabe? Não é de hoje. E, menina, chega disso. Nem calculo quantas pessoas já devem ter lhe dito essa frase e sei também que não esperava que fosse mais uma delas, mas já pensou que todos podem estar certos? E estão.

 Tenho te olhado desde dezembro, desde o banco da praça e do beijo que você deu nele. Eu te vi no ano novo, pedindo às estrelas, que esse ano fosse o de vocês. Eu sinto muito, mas é impossível passar 365 dias ao lado de quem só lhe quis por uma semana. Sabe, menina, eu o vi no carnaval. Vi que ele bebeu e que lhe trocou por várias que, juntas, não davam nem metade do que você é. E, em silêncio, te observei chorar no travesseiro, longe de tudo, imaginando o que ele faria naquele momento. Ainda bem que você não pensou nessa possibilidade, porque doeria um pouco mais. Lembra daquele dia que chegou em casa ainda com o frio na barriga e pôde jurar por tudo e todos que sim: dessa vez sim? Mas não. Não era nada disso e até eu, mero narrador, achei que fosse. Dizem que é errado me envolver na história, mas por uns momentos torci por você e, confesso, também pedi às estrelas. Porque, quando você sorri, o mundo para, menina. Para e te olha, concordando em uníssono: há amor em algum lugar. E você merece vivê-lo.

 Você é doce, no falar e no cheiro. Nesse vai-e-vem-tic-tac, perdida, você ainda ouve aquela música sem perceber que, no fundo, é você que não sabe por onde anda enquanto tanta gente te procura. Junta todos esses pedacinhos e relembra quem você era em setembro do último ano. Você era completa. Era feliz. Não procurava em todos os rostos, em todas as esquinas quem te flechou. E, sem romantizar: não se trata de cupido. Ele te enfiou uma flecha no peito e vem te matando dia após dia. Quantas vezes o sol vai precisar nascer e se pôr para você perceber que já não existe nem resquício de vocês? Evaporou. Lembra da equação dos gases perfeitos, em Química? Pois bem. Use-a para esse amor solitário, que mais me parece uma cruz.

Ouça bem, menina: você é uma raridade. E, era segredo, mas existe um mundo inteiro esperando o seu primeiro passo para girar mais rápido e te fazer dançar. Ligue para o salão, marque a tão adiada mudança e, junto com o excesso de pontas, deixe toda essa tristeza no chão. Colora o cabelo e a vida. E me esqueça, você não precisa mais de um narrador. Pegue a caneta e escreva sua própria história. É com você, menina.

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