Ler ao som de "Video games", de Lana Del Rey.
Meu corpo rejeita qualquer
contato físico enquanto discuto convicta de estar certa. Você estica o braço
para tocar a minha perna e eu recuo, ocupando o mínimo espaço que posso. Era
uma distância física, emocional e espiritual. Eu me sentia pequena, porque,
naquele momento, você me diminuía. Lembrei-me do dia na praia em que me pediu
para não mostrar tanto e pareceu surpreso e decepcionado por não te acatar. Mas
você gosta que outras pessoas mostrem. E as vê.
Desculpe-me, querido, mas eu preciso desabrochar.
Não é como se você não fosse o que mais quero e parte de tudo o que planejo
para amanhã e daqui a cinco anos, mas você também me faz pensar que não sou
suficiente. E, até mesmo na minha maior solidão, fui suficiente para mim mesma.
Você está
despedaçando aos poucos e às vezes volta para tocar na mesma ferida. Não me
sinto má por ser quem arranca tudo de uma vez, não cultivemos sofrimento.
Quando desligamos o telefone, o silêncio me preencheu como há um tempo não
acontecia. Rompi muitos silêncios para não te abandonar no desespero de não ser
ouvido. Talvez não tenha notado, mas é exatamente porque nunca quis fazer
parecer um sacrifício o que, na verdade, é amor.
Observei você até te
apreciar de verdade. E agora não há uma vez em que não te veja com o olhar
devotado de quem tem tudo o que quer. Quando pensar que estou afastada,
lembre-se que continuo no meio do caminho. E, mesmo sendo ele distante dos
nossos lugares iniciais, é o mínimo para alcançarmos um ao outro.
Também sinto saudade quando olho para trás e
vejo minha versão original e pura, mas, por outro lado, sou tomada por
empolgação quando olho para frente e consigo te enxergar. E isso justifica qualquer
pendência com o meu eu primevo.
Pensei estar muito fora de mim, porque era
isso que me fazia acreditar, mas, enfim, senti a legitimidade das minhas
razões. Quando você me subestimou, deu-me uma força sobre-humana para exercer
minhas vontades e fazer valer o que sinto. Então, se isso for uma competição,
não duvide que jamais estive tão disposta a ganhar. E, suas expressões, que só
me fazem sentir a mais simples felicidade, desta vez, não têm força sobre mim.
Recoloquei a armadura.