Ninguém
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damadodrama
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sábado, dezembro 26, 2015
Leia ouvindo "Nobody", da Selena Gomez.
Eu me sinto um pouco sufocada por todas estas perguntas e pelo medo do que está por vir. Mas, ontem a noite, você esteve aqui e instantaneamente as coisas se acalmaram. Você sempre me mostra o caminho e segura minhas mãos para que siga segura por ele. E, em meio a toda a minha insegurança e aos meus muitos complexos, você acaricia meus cabelos e diz: "você é quem sonha e não o que dizem". Queria que todas as pessoas pudessem sentar a sua frente e te ouvir falar. Porque ninguém jamais me amará como me ama.
Quando já é tarde e todos foram dormir, eu deixo os sentimentos escaparem e, involuntariamente, me sinto sozinha e perdida. Mas você lê os meus pensamentos e ouve minhas perguntas a mim mesma, feitas em voz alta e cheias de dúvida, e me pede para esperar pelo melhor. Eu gosto de ser ninada por você e logo caio no sono, com a leveza de uma criança e a segurança de quem é amada e protegida. Ninguém me entende como você.
E quando escapo dos assuntos boêmios de algum barzinho e vou ao banheiro, olhar no espelho e tentar enxergar quem realmente sou, você vai até lá para me lembrar do que conversamos antes de dormir. Você me lembra de que o meu lado bom sempre vence o confuso. Volto para fora com a certeza de que um dia vou despir as camadas que me cobrem e sufocam, para ser somente a garota que você conhece. Afinal, ninguém me conhece tanto quanto você.
Às vezes, me pergunto por que, onde e quando. "Por que ainda não?", eu digo antes mesmo de abrir os olhos. A culpa me consome. E você me abraça, em silêncio, atestando que a paz deve ser o remédio para a espera. Eu viro os relógios para a parede e aboli os calendários desta casa, só para não ser corroída pela expectativa. Mas parece que você apressa os ponteiros e me distrai com o resto da vida. Ninguém consegue driblar tanto o tempo.
E, hoje mesmo, eu pedi ajuda para ir embora, te implorei para fugir. Você me negou o pedido. Disse-me que a pessoa que luto todos os dias para ser, sai pela porta da frente com saudações de despedida e um "volte sempre" e que será assim comigo em breve. Eu aguardo esse "em breve" com todo o meu coração, com muita convicção de que, sim, eu vou e iremos juntos. Porque ninguém está tão presente em mim quanto você. Eu me nego a acreditar que exista alguém como você, porque, realmente, não há.
Imagem: We Heart It
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Sozinha
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damadodrama
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sexta-feira, dezembro 11, 2015
Leia ouvindo esta música!
Olhei para a cama
gigante, nunca esteve tão convidativa. Duas taças de um vinho português e o
quarto parecia absurdamente quente. E vinho sempre causa duas coisas: coragem e
sono. Eu tirei a calça e me atirei. Estava, enfim, sozinha. Sozinha com essa
cidade cheia de luzes e cheiro de maresia. Deitei e vi no teto um retroprojetor
da minha mente confusa. Não adiei nada: revirei cada acontecimento, cada
“tchau”, todos os “nãos”, as bocas, os meses e as indecisões. Eu estava em um
lugar em que as pessoas sequer sabiam meu nome, porém, apenas de uma coisa não
podia fugir: de mim mesma. Era a hora de me despir. Água gelada e cabelos
molhados – e, também, sentimentos expostos. Todos refletidos no espelho. Os
quilos a mais não negam que troquei a aparência pelos meus sonhos.
Voltei para o quarto
e sussurrei: “enfim a sós” e dei uma piscadela para a minha própria imagem no
guarda-roupa. Conheci uma nova série e fiquei dividida entre o mocinho e o
vilão. Fui ao cinema e usei três cadeiras para deitar. Gargalhei alto e troquei
sorrisos com um funcionário na saída. Comi todas as porcarias que amo e perdi
dois quilos caminhando todos os dias na orla durante o por do sol. E pensei em
entrar no mar a noite.
Confrontei-me sobre
os próximos meses, mas me distraí comprando livros novos. E esbarrei três dias
com um cara que, no final, acabou deixando seu perfume no meu vestido. Ri,
sozinha, do quanto minha vida parece um filme adolescente. Desejei ficar pela
primeira vez e até fiz uns planos de conhecer os bares na rua da faculdade. Ou
ficar assistindo filme e dividir a pizza com uma nova pessoa. E ela me pediu
para ficar mais um pouco ou, quem sabe, voltar de vez.
Não respondi nada.
Não posso falar sobre pessoas e futuro agora que, finalmente, tenho conseguido
ser alguém real. Mas também não desejo ser como as que me fizeram demorar a me tornar isso. Sozinha, eu tenho ido longe, porque ninguém me pede para esperar um
pouco. Não tenho precisado carregar nada nas costas e tenho andado rápido
graças a isso. Sozinha, com todos os tempos verbais e existenciais, descobri
que é um grande presente vivê-lo.
Volto para casa em
breve, minha mala é bem pequena para os meus padrões e, o que não cabe nela e
no peito, eu abandonarei aqui. E, por incrível que pareça: não há quase nada
sendo deixado para trás, porque a bagagem jamais esteve preenchida por tantas
coisas boas e concretas.
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Cidades grandes e nós dois
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damadodrama
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sábado, dezembro 05, 2015
Leia ouvindo "I never told you", da Colbie Caillat.
Estou em mais uma
cidade grande, tirando férias da minha pacata vida de garota do interior – e sei
que faria uma observação: sou uma garota do interior apenas por morar nele,
porque na prática sou uma garota-mundo. Você me deixa constrangida com essas
expressões enigmáticas meio elogiosas. Eu costumo ser mais objetiva e falo logo
da sua barba e da sua, aparentemente, inesgotável paciência. Mas, voltando a
metrópoles e prédios: sempre que os vejo, lembro daquelas coisas que me diz a
cada fevereiro sobre morar em um deles somente até ter dinheiro para comprar
uma casa e ter uns dois ou três filhos e a menina, ah, a menina vai se chamar
Sophia, e você tem pavor de um dia ela chegar em casa dizendo que arrumou um
namoradinho. Ouço isso desde os quinze anos, quando ainda tinha coragem de
usar um lacinho de pérolas no cabelo; e agora já estou aqui: crescida e ligando
aos prantos para uma amiga, para dizer que é difícil passar tanto tempo sozinha
longe. E, toda vez que é você quem está do outro lado da linha, me diz “calma,
meu bem. Tudo vai se acertar”. Odeio que acredite tanto assim no destino.
Principalmente no nosso.
Não que eu descarte
definitivamente ser dona de uma dessas janelinhas acesas lá no alto junto a
você. Só não quero parecer menos dona dessa decisão por nos deixar tão nas mãos
do futuro. Você nunca foi o meu “com certeza”, mas seria uma bela cereja do
bolo em que botei a mão na massa para fazer. E cá estou: sentada em frente ao
forno, esperando-o ficar pronto, enquanto você ainda acha cedo demais para
saber se pode ou não estar em Paraty no próximo carnaval.
Por todas estas
coisas e algumas outras, invejo seu trabalho. Você investe o seu tempo em cuidar
de pilhas de papel e deixa as pessoas sob a responsabilidade do destino. Temo
por você. Temo pensar que vai amar alguém e irá pedi-la que aguarde um pouco
mais até poder comprar uma casa com jardim (e eu sei que irá comprar); e que, depois,
dedique-se completamente ao mestrado e, ainda mais a frente, peça-a para
esperar você juntar dinheiro para a viagem de aniversário de casamento e que,
um dia, chegue em casa e a veja pela última vez, porque esperar cansa e o tempo
não brinca de estátua. Eu também não. E é por isso que gosto de cidades
grandes: elas nunca me permitem ficar entediada. Elas não admitem inércia
sentimental: sempre há algo a ser sentido, seja bom ou ruim. E você não me faz
sentir nada novo desde o dia em que te conheci.
Imagem: We Heart It
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120 dias pensando em você
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damadodrama
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domingo, setembro 27, 2015
Leia ao som de "A vida não presta", de Léo Jaime.
Veja que boba sou,
estou aqui escrevendo sobre e para você. Agora fora do meu moleskine vermelho.
Meio na lua, que hoje está em eclipse, meio aí na sua casa (em pensamento). Sei
que, caso estivesse aqui, riria com tamanho desconcerto e com o corar das
minhas bochechas, como em todas as vezes que penso em você. Quando cruzou
aquela porta, te achei estranhamente bonito, mas também pensei que sua camisa e
sua bermuda não combinavam muito. Eu quis saber seu nome, mas não tanto quanto
o de um outro garoto que chegou antes. Você falava de um jeito engraçado e, ao
mesmo tempo, irritante, então eu preferi te achar apenas irritante. Mas de vez
em quando meu escudo falhava, e eu soltava uma risada discreta por uma de suas
piadas (droga!). Implicava mentalmente com tudo o que dizia e até com o que eu
achava que você estava pensando. Você parecia não achar nada de mim. Até eu me
meter em confusão e passar a ser uma semi-heroína fruto da sua ingênua
imaginação.
Eu parei de falar de
você e passei a falar sobre você. E a te achar inteligente. E engraçado. Você
não é bobo como imaginava, confesso. Na verdade, é bastante engraçado. Adoro o
quanto é justo. Quando vê algo errado, fica sério e ainda mais bonito. Pode até
ser que seja só um adolescente impulsivo, mas até seus impulsos revelam o
coração bom que tem. Às vezes, eu paro e fico te admirando. De soslaio. Não dou
o braço a torcer.
Se pudesse, voltaria
àquela festa e te responderia diferente. E dançaria com você. Talvez até te
roubaria um beijo, mas todas aquelas pessoas nos olhariam e eu prefiro quando
estamos só nós dois. Voltaria aos cinco minutos em que falava sobre meu medo do
futuro despretensiosamente e você parecia não duvidar nem um pouco de que tudo
daria certo. Também gosto desse seu lado.
Azul turquesa é minha
cor favorita desde que saí da fase Barbie e “patricinhas influentes da escola”.
Azul turquesa é a cor dos seus olhos
assustadoramente hipnotizantes (às vezes eu desvio o olhar de agonia do quanto
eles são bonitos, você percebe?). E, ainda mais, você é fã de Lulu Santos e
cantarola Skank por aí. Odeio ter descoberto essas coisas. Elas me fazem pensar
em você e no quanto ficaria lindo usando preto. Aliás, você não tem nenhuma camisa
preta, não é? Pensando no fato de eu não estar aqui antes, ainda bem que não
tem.
Mesmo que seja só uma
grande brincadeira ou gozação da vida, algo me diz que, caso não seja agora, vamos
nos esbarrar por aí, tomar uma taça de vinho e lembrar que não sou atraente
comendo McDonald’s e que você dormia escorado em qualquer lugar. Mas espero te
reencontrar amanhã e não daqui a três anos. Desde que notei quem realmente é, não
quero esperar mais que um dia até te ver novamente.
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Considerações finais
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damadodrama
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quinta-feira, setembro 10, 2015
Toda vez que me despeço, tenho a intenção de que seja a última. Seu cheiro de Malbec com Marlboro já está entranhado nas minhas roupas, no meu cabelo e até na minha pele. Eu tenho o seu cheiro e não posso agarrá-lo. Uma parte de você está sempre em mim, apesar de que, quando o imagino, quero concreto. Eu sei da falta que faço. Eu sei que já beijou outras garotas e, ao fechar os olhos, me imaginou. Sei que sou, todos os dias, o pivô da briga entre você e sua covardia. Acho que o conheço tanto, a ponto de saber o que tenta esconder de si mesmo. Quem disse que viver isso nos faria mal? É você quem faz se tornar uma dinamite toda vez que torna nosso amor um jogo de vai e vem.
Eu gostaria muito de ficar. Gostaria ainda mais de ir. Gostaria de poder fazer algo definitivo. Por favor. Pare de fazer nosso amor de refém. Você é um homem agindo como um garoto que se perde da mãe numa multidão. E eu sou uma menina tentando assumir o papel de Mulher Maravilha. Andamos sempre na contra-mão. Um do outro. Porque se ao menos andássemos juntos nela, chegaríamos a algum lugar.
Queria poder te abraçar, olhar nos olhos e acariciar seu rosto para mostrar que não levo nada de ruim, talvez nem haja o que levar, no geral. Eu não te amo mais, mas eu ainda gosto de quando é sua melhor versão comigo. Sei que, mesmo distante, há uma parte de mim com você e não quero cobrá-la. Eu vou sim. Já quebrei tantas vezes, que esse pedaço não me fará falta. Mas, talvez, para você, ele faça. Ele tapa esse buraco que ficou da vida e das pessoas antes de mim. É seu, pode ficar. Seguirei bem sem ele e, melhor, sabendo que não te deixo ao léu.
Guarde-me como algo bonito e faça ser assim com quem chegar daqui para frente. Não estou indo para te machucar ou por vingança. Estou indo para me salvar. Sei que já há alguém esperando por mim lá, que esse alguém, diferente de você, vai me pedir e me fazer ficar. E eu vou ficar. Já estava escrito. Mas, pense bem: você não estava. Eu mesma fiz isso. Você foi uma história escrita com a minha caligrafia e sem roteiro específico. Acho que só sou boa com introdução e desenvolvimento.
Imagem: We Heart It
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Aqui
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damadodrama
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domingo, junho 07, 2015
Leia ao som de "Por Onde Flor", de Thaís Madureira.
Marquei, bem aqui, às
sete. Esperei-lhe ansiosa e usando o meu melhor perfume. Os ponteiros andaram
diversas vezes e meu pé doeu; sentei. Contei estrelas, contei histórias, contei
minutos. E, mentalmente, justifiquei o atraso, tentando me auto-enganar. Você
não veio. Perguntei ao moço do carrinho de pipoca no dia seguinte; você não
veio. O contratempo foi descobrir que você não queria vir.
Hoje estamos, à luz do
luar, no mesmo lugar, com todas essas bandeiras sobre nossas cabeças e esses
paralelepípedos sob nossos pés. Você não está aqui porque sabia que eu também
estaria, porque nem eu sabia. Você está aqui porque quis vir. Porque quis
encontrar algo que permitiu que caísse caminho afora. Eu estou aqui, porque gosto desse lugar. Os cacos das nossas memórias não me são úteis, mas o que ficou de
bom, como já disse, ficou. Até as dores são boas lembranças por terem me
tornado quem sou.
À noite, fechei os olhos e senti que algo bom estava por
vir. Faz tempo, mas logo fui boicotada pela vida, que me fez tropeçar em nós e
cair. Andei por aí, desbravei corações, mares, noites, bocas, músicas que não
eram a nossa. Tornei-me mais segura, continuei sendo a menina que senta no meio
fio para ouvir histórias dos rapazes que conheço, mas conheci a mim, tomei um
bom vinho, tirei o excesso de cabelo, de traumas, de apego e mágoas. Ainda sou a
moça que delira quando vê prédios muito altos, mas agora também sou quem vai
morar em um deles.
Você está aqui. Nada
é o mesmo. Você não está intacto, nem quem somos e o que fizemos de nós. Quase
tudo mudou ou esteve em outro lugar, mas a igreja é a mesma. O moço da pipoca
também. E a essência do que sentimos ao fechar os olhos todas as noites. Dessa
vez, você não quer tudo. Você quer me amar. Assim: simples como deve ser. Sem o
passado assombrando, mas com todas as provas mais que evidentes de que é para
ser e será.
A lua, iluminando o
seu rosto, intercessora da concretização de nós, é testemunha ocular de que
somos e estamos e sempre deveríamos ter sido. O mar, de amar, azulou-se. Beijar-lhe
é tripudiar tudo que um dia nos negou acontecer. Para ser feliz, é necessário uma coisa só: deitar-me ao seu lado. Aqui.
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Ela
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damadodrama
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terça-feira, junho 02, 2015
Escrevo atrasado demais, porque nem sequer
sabia que podia escrever, mas você sempre faz com que as pessoas descubram suas
capacidades ocultas. Escrevo, pois na aurora dominical lembrei de você. Sei que
te deixei vazar pelas minhas mãos e nada há que possa ser feito para
revertê-lo, mas queria te dizer que no meu silêncio couberam tantas coisas
quanto no seu. Estava tão despreparado para te encontrar quanto você e a
diferença está exatamente no seu dom mais que teatral de improvisação, que faz
com que sempre se saia bem e tenha tato para lidar com o mundo. E por falar em
tato, sinto falta das suas mãos quase infantis de tão pequenas, que cabiam nas
minhas, dobradas, e eu até me sentia protetor por alguns segundos.
Você é um caos ambulante; um caos bonito de se ver. Um caos
que fazia eu me debruçar na mesa de restaurantes aleatórios para admirá-la (o
que obviamente não justifica minha apatia). Você é essa coisa toda. Ora me
deixava apavorado por ser tão mulher e perspicaz, ora me deixava desnorteado
por ser tão menina e precisar de tanto cuidado, que não me julgava capaz de
dar. Você é uma garota cheia de alma e cheia de vida. De vez em quando me assustava
com tanta naturalidade ao parafrasear Maquiavel, pragmática como ninguém,
enquanto eu tomava minha cerveja no bar de esquina, em frente à praia. E me
fazia parar para ver o mar antes de te levar para casa e falava da vida como
quem fala de preparar arroz: as coisas soam tão naturais e simples quando saem
da sua boca, e isso realmente me amedronta. Você é simples. Elogiava as
meninas, as roupas, a maquiagem, a elegância, se isentando de ser uma e não as
diminuindo de forma alguma, porque para você, as coisas têm de ser como são,
inclusive a beleza alheia. Essa é umas coisas que te fazem ainda mais bonita:
você não precisa se sentir melhor que ninguém, mesmo quando realmente é.
Você faz as pessoas
se sentirem exatamente o que são e quando elas não sabem quem são, você abre o
caminho, pega na mão, anda lado a lado e as conduz escuridão adentro sem medo
de se perder também. É por isso que hoje sei que não preciso envenenar tudo o
que sinto, porque não há mal nos sentimentos a não ser que deixemos. Você dia
ou outro reclamava de não saber fazer nada, de não conseguir concluir nada que
inicia e nisso concordamos: você é desorganizada e inconstante, mas onde já se
viu, você escreve e faz todas as palavras fluírem linda e harmoniosamente, numa
sinfonia perfeita, de sentimentalismo e realidade. Você canta afinado, tímida e
distraída e sempre para quando percebe que estou ouvindo. Você faz as crianças
te quererem como tia e os idosos, como neta. Você sabe quase toda a linha do
tempo da Guerra Fria, mas quando o assunto se tornava História, você preferia
ouvir, porque sua personalidade não te permite parecer arrogante.
Talvez eu pareça um
poeta trovador, um daqueles que colocavam a mulher amada como deusa máxima. Sei
que você tem defeitos, mas há bastante tempo venho procurando-os para
justificar minha distância, e é difícil enumerar muitos, a parte boa se
sobressai. Sinto falta de acordar acariciando o travesseiro e procurando os
fios ruivos que você sempre deixava nele antes de ir. Juntava-os e colocava na
lixeira do banheiro. Se pudesse voltar no tempo, guardaria num vasilhame de
vidro, para de alguma maneira acreditar que algo de você ficou. Levaria você ao
aniversário da minha avó e tenho certeza que suas bochechas corariam quando,
gritando (ela está ensurdecendo), diria que você é uma graça e eu assentiria
com a cabeça. Se pudesse voltar no tempo, compraria algumas revistas teen e com
recortes de textos de auto-ajuda montaria o meu próprio para dizer que gosto de
muitas coisas em você e até de você. Jogaria sinuca e não te deixaria acreditar
que “não é bonita ou inteligente, porque ninguém é e ninguém nunca vai ser” (como
naquele filme com o cara de High School Musical), porque você é. E muito. Seu
batom vermelho fazia todos os olhares e expectativas concentrarem-se em você, e
esse era um passo para as pessoas repararem nas suas curvas. Mas logo depois,
tudo isso tornava-se pequeno. Porque quando você abre a boca, de forma
mística e ao mesmo tempo real e simples, prende as pessoas. Voltaria no tempo e
caçaria as palavras, circulando-as com caneta esferográfica, nos seus cabelos,
no seu corpo, nas pintas quase invisíveis do rosto para saber qual devo usar
para dizer que eu realmente te amei de um jeito que não era para ter sido, mas
foi. E não me arrependo.
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Algum lugar que apenas nós conhecemos
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damadodrama
em
sábado, maio 23, 2015
Leia ao som de Somewhere only we know.
Gosto de escrever
quando sai e me deixa aqui, sozinha, com um monte de você pela casa. Aliás, no
início, achava bem estranho você sair para a faculdade ou trabalhar e querer
que eu ficasse. Até me dizer que a graça está em voltar e me encontrar. E
como temos nos encontrado... Como naquele dia. Eu nunca acreditei em como as
pessoas se conhecem nos filmes. Aí você derrubou vinho (quem bebe vinho em
boates?) no meu vestido vermelho, no
fundo da balada. Eu gritei. Você me achou louca. Só queria ir embora, mas eu tinha
uma amiga dançando e um cara desastrado que esperava o primo beijar alguém. Descobri
que você odeia Exatas tanto quanto eu.
E depois, eu estava
sendo sequestrada por madrugadas aleatórias para andar de carro pela cidade e
saber como ela é quando não tem ninguém olhando. Por sinal, ela é muito mais
bonita e atraente, assim como nossa história, porque não há olhos curiosos
sobre nós. Veio o vestibular e todo o meu desespero. Foi aí que conheci sua
casa e descobri que Camboja fica do lado do Vietnã. Aprendi mais de Geografia
nessa tarde que nos 14 anos de escola. Discutimos política; se deve ou não
haver redução da maioridade penal; se doce de leite é melhor que chocolate.
E, de repente, eu estava lá de novo. Estudando enquanto você tocava piano. Não
existe nada mais elegante que tocar piano. Principalmente quando se trata de
você e do jeito que prende o lábio com o dente quando está concentrado. Você
queria algo que rimasse com “hipotético” e eu sugeri “poético” e agora fazemos
músicas nas tardes de folga.
Às vezes, te acho
homem demais para mim, uma garotinha que não sabe nada da vida. Você foi a
coisa mais-não-planejada que já me aconteceu. E toda a insegurança vai embora
quando me pede para ser sempre tão menina. Para continuar sendo eu. Você sempre
diz que sou uma menina cheia de alma, vida e história. Mal sabe que, na
verdade, nunca pude colocar para fora tanta alma quanto agora. Não tenho mais
medo de fazer isso.
Um dia desses, saímos
para pedir pizza e umas garotas da faculdade foram te cumprimentar. Observava,
de longe, sorrateira. Assim que virou de costas, elas comentaram sobre sua
roupa e como você é bonito. Bobinhas... É raro uma garota não te olhar, mas é
maravilhoso saber que é a minha foto que está na sua carteira (e vergonhoso
lembrar da minha careta nela). É maravilhoso ser quem sabe que a pizza é de
frango com catupiry sem orégano e, melhor ainda, ser quem a divide com você.
Gosto de como falamos, do quanto falamos e de falarmos tanto da vida. De tudo. Desde as guerras mais importantes na América do Sul, até tentar adivinhar que bebida está na caneca do Jô Soares. Você foi tomar banho e pediu que eu ficasse te esperando do lado de fora, no quarto, só para não deixarmos o assunto pela metade. Acordei, no dia seguinte, na sua cama. Com uma camisa preta gigante do lado e um bilhete de “é o melhor que tenho”. Desci, envergonhada, e encontrei travesseiros no sofá e uma mesa de café da manhã. Você me olhou, olhou de novo e soltou um “uau! Como você fica sexy com a minha roupa”, ironizando o fato de eu odiar ser chamada de sexy. Eu dormi na sua cama sem nunca termos nos beijado. E você não quis tirar a minha roupa para isso.
Algumas semanas
depois, era o meu domingo na escolha do filme. Errei de novo. Uma comédia péssima
e ríamos só para não prolongar o silêncio. E você me beijou. E, novamente, mais
algumas vezes. Mas, depois disso, você continua me deixando falar, e falar, e
falar, até não querer mais. Porque te importa mais que eu esteja aliviada e em
paz, do que me calar. Você é vinho depois de vodka. Tira o amargo. Quase ninguém sabe
sobre nós e é isso que me faz, pela primeira vez, não precisar de garantia
alguma: temos um lugar só nosso no mundo. Um lugar secreto em nós.
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Tortura
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damadodrama
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domingo, abril 26, 2015
Leia ao som de Por que você faz assim comigo?, da Mallu Magalhães.
Passo boa parte da
semana aqui, do lado dessa estante velha, vendo as pessoas passarem pela
janela. E a vida. Passando, normalmente, porque não pode alterar seu curso
normal por minha causa. Fico aqui, quietinha, descansando. Porque estou sempre
exausta, sempre querendo um canto para me jogar, sempre olhando para o celular,
esperando a bendita hora que sua mensagem vai chegar e, eu com certeza não vou
saber onde você está, mas estarei um pouco mais aliviada. Na complexidade do
nosso não-relacionamento, da angústia onipresente, você me acalma. Sabe, é como
morfina: alivia a dor. Ou mata.
Quando você chega,
calado e misterioso, falando estritamente o básico, e entra no quarto, já sem
camisa e tirando os sapatos, te observo da cabeça aos pés (e te desejo) e fico
vidrada, te encarando, esperando ser cuidada. Não, não é submissão. É
esperança. Porque não era para ser diferente disso, entende? Não era para ser
diferente de entrega mútua. Pessoas se envolvem porque querem, porque se
apaixonam, pelo destino, sei lá. O fato é que, depois de se envolverem, elas
criam laços. Mas você não. Você criou nós. Um no meu peito, que todo dia lembro
da existência, porque aperta um pouco mais. E outro no meu pescoço, prestes a
me matar enforcada.
Eu te olho. Olho e
espero. Espero mais. Quando nos beijamos, sinto até meu dedo mindinho do pé
mexer, o estômago revirar, e eu até fico com medo de você achar que estou com
fome, mas não: é aquela reação, ainda sem nome, causada pela felicidade (e
agonia) de estar com quem se gosta. Mas me sinto masoquista, me sinto como
alguém que de uma parede corre até a outra. E se joga. É que, na realidade,
queria que me salvasse da outra parede. Que correspondesse à minha corrida e
estivesse lá, do outro lado, esperando para me pegar. Mas não. E eu vou me
atirando.
Eu te olho e olho
todinho. O traço dos olhos, meio puxados; a linha da sobrancelha; as mãos
grandes e firmes; o sorriso que não deixa os dentes de baixo aparecerem. Eu
sinto tanta vontade de te abraçar... Sempre. Às vezes, no meio da noite. Às
vezes, durante a aula. Eu lembro de você e penso no quanto gostaria de te
poupar do mal. Mas e eu? Por que você faz isso comigo? Por que me deixa assim,
à mercê?
Quando olho esses
porta-retratos vazios, na sala dos meus pais, penso em quantas vezes acreditei
que dali a pouco eles estariam preenchidos por nossas fotos. E lembro que não
faço a menor ideia de onde você está. Nem do seu prato predileto. E sequer
imagino quem manda as mensagens que fazem seu celular apitar milhões de vezes,
irritante e incessantemente, enquanto estamos juntos.
Estou aqui. Cheia de
roxos. Cheia de medo. E cansada, muito cansada. Queria fechar os olhos e
dormir. Mas não houve um dia, depois de você, que tenha conseguido. E penso, e
penso e penso mais. Não tenho malas a fazer, nem um anel para tirar do dedo.
Nenhum toque de drama para, sei lá, fazer parecer bonito. É doído. Doloroso. Um
tchau seco e interior, porque nem para me ouvir dizer adeus você está aqui. É
solitário. Te amar é solitário. Parece aterrorizante denominar essa coisa, não
é? Soa pesado. Amar. Solitário. Eu ainda não entendo e não é uma tarefa fácil,
mas até para ir, penso em você. Na sua solidão após mim. Porque eu te ouvia.
Talvez você que não quisesse falar, mas eu te ouvia.
Eu não sei quantas
delas há. Mas sei que olha para elas e as compara a mim. Que me coloca num
degrau acima, como alguém que não deveria estar incluída quando você fala das
garotas com quem se envolve. Mas sou uma garota normal. Tocável. E estar num
degrau além, é o que também nos distancia. Não sei se há prazer em me
maltratar. Não sei se você lembra e ri. Não sei se você percebe, mas, se sim,
por que você faz assim comigo?
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O que vem depois do depois?
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damadodrama
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quarta-feira, abril 22, 2015
Eu planejei coisas
paras as férias e fiz quase todas. Fiquei ansiosa para começar no emprego novo
e, nossa, quanta coincidência receber essa proposta. Eu penso nisso desde
criança. Pensei no curso; em como comemoraria essa oportunidade. Não estava
satisfeita com o lugar onde estudava. Mudei. Deixei tanta gente que amo para
trás. E fracassei num relacionamento fracassado. O que acontece agora? O que
acontece depois de tudo o que um dia a gente chamou de depois? É só viver
normalmente e ficar esperando? Eu não sei fazer isso. Costumo fazer o plano A,
e o plano B; e o C, só por precaução. Quando todos os planos acabam, o que as
pessoas fazem? Por favor, me conte. Porque eu já liguei a televisão. E já li
todo o livro de História. Eu já visitei meus avós e também fui a um barzinho. Eu acordo todos os
dias esperando que hoje (meu Deus, tem que ser hoje!), eu encontre alguma
resposta. Sei lá, a minha casa tem estado desconfortável e, os assuntos com
meus amigos, sem graça.
Já se afogou? Pois
bem. Eu tenho muito medo de mar. Acho que ninguém sabe, mas toda vez que vou à
praia, fico observando o mar. As pessoas acham isso poético ou que é apenas
admiração. Mas, na verdade, fico imaginando como deve ser a sensação de estar
se afogando. Fico imaginando como é perder o ar e não ter lugar algum para
segurar e poder respirar novamente. Imagino o desespero de engolir água e de tentar bater os pés, e ainda gritar ao mesmo tempo. Tenho me sentido assim. Aliás, esse é o
conceito que criei para a sensação mais abstrata que ando carregando: a de
estar sufocada e não ter onde segurar. Quando eu fecho os olhos, sinto a falta
de ar. Sinto as bolhas saindo pelo meu nariz. Sinto a força da água.
Já pensei que talvez
eu só seja alguém que nunca está satisfeito com o que tem, mas é que, como é difícil...
Estou em um lugar que não quero mais estar. Gosto da minha casa e do cheiro do
meu quarto, mas as ruas me olham com rispidez. É utopia acreditar que posso me
satisfazer só com o que está da porta para dentro. E todo o resto da cidade? Eu
quero isso: a cidade.
Eu quero poder querer
o que quero. Sem as palavras empurradas para minha boca, sabe? Sem essa
necessidade de dizer o que diriam, porque eu não diria. Eu não. Eu.
E agora? Agora é o que chamei de “depois” há
uns meses. E eu não conseguia enxergar que o depois tinha um depois. As pessoas
me cumprimentam no ônibus e minhas amigas falam sobre o cinema de ontem, mas
ninguém sabe responder a todas essas perguntas que carrego, dia após dia, para
o meu travesseiro. Ninguém sequer vê que
ando por aí com uma interrogação na testa. O que vem depois de você ter feito
todas as coisas que sabia que poderiam ser feitas?
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Casa
Postado por
damadodrama
em
domingo, fevereiro 01, 2015
Leia ouvindo "Home" - Gabrielle Aplin
Quando eu tinha uns quatro anos, no meu primeiro ano na escola, lembro de ouvir pela primeira vez, da minha avó, a pergunta que me faço quase todos os dias agora: "o que você quer ser quando crescer?" e, sem titubear, respondi: "juíza". Nenhuma menininha nessa idade sabe a complexidade dessa profissão nem o que ela é exatamente, mas eu sabia que um juiz poderia fazer com que um bandido ficasse na cadeia e eu achava isso fantástico. Sabe, no fundo eu vejo lógica. Eu não posso impedir que alguém faça o mal, mas posso puni-lo por isso.
Eu fui uma criança muito sonhadora e também muito madura. Eu tinha que fechar os olhos para as cenas de sexo das novelas, mas lidei com uma depressão aos três anos. Não me considero vítima de nada. Fui muito feliz. Brinquei de Barbie e, nessas brincadeiras, eu era quem eu queria ser quando crescesse: tinha roupas legais, morava sozinha, fazia tatuagem, casava com o Ken e era vizinha da minha melhor amiga. Fui crescendo e criando mais sonhos. Mais difíceis, é claro. Passei tardes e mais tardes sonhando em viajar para a Disney. Lembro de uma garota da minha escola ter sido alvo da minha total admiração, porque ela foi a primeira pessoa que eu conhecia que foi para lá. Criei dois álbuns no Orkut: Dream 1 e Dream 2. Disney e festa de 15 anos. Dois anos depois, eu estava em absoluto silêncio ao lado dos meus tios e da minha prima (que falavam atônitos e eufóricos), com as lágrimas pingando e arrepiada em frente ao castelo da Cinderella. Minha mãe, na época, não poderia pagar a viagem de forma alguma e eu ganhei dos meus tios. Ela sempre dizia: "Beatriz, não crie tanta expectativa. Não que eu não torça por você, mas é mais provável que não aconteça". Meses depois dessa noite, eu estava dançando valsa com o meu pai sob os olhos de todas as pessoas especiais para mim.
Tem segredo? Tem sim. Pedir a Deus todas as noites para que aconteça e ficar feliz pelas realizações das outras pessoas.
Eu acho que eu nunca falei isso pra ninguém, mas todos os dias eu penso em quem eu quero ser quando crescer. Faço mil perguntas a mim mesma antes de dormir. Se eu vou realmente ser feliz arriscando minha vida na profissão que tanto quero ou mais: se vou escolher a coisa que mais amo em vez de a que sustentaria minhas metas; se vou encontrar alguém que me ame a ponto de ser completamente verdadeiro comigo e se essa pessoa vai querer ficar; se vou ser uma pessoa melhor e a filha que minha mãe tanto deseja; se as pessoas vão entender que eu realmente tento ser amorosa e acabo me atrapalhando; se um dia vou colocar a cabeça no travesseiro sem nem uma dessas perguntas.
Não sei nenhuma das respostas que procuro e de vez em quando fico muito angustiada por me sentir tão impotente em relação à vida. Mas sei que todas as pessoas têm um lugar onde se sentem em casa. Um lugar onde se pode estar à vontade, falar o que se sente cem por cento; onde pode estar com qualquer roupa, sentindo qualquer coisa, seja ela boa ou ruim. Onde também estão as pessoas que ama. Um lugar para o qual se quer voltar quando bate o medo. Um lugar para o coração se sentir confortável e confortado. Para mim, esse lugar é a realização dos meus sonhos. Cada vez que realizo um deles, eu me sinto um pouco mais eu. Como se contasse ao mundo o quanto eu queria aquilo. Como se contasse ao mundo que sou um pouco daquilo também. Que fui à Disney, porque tudo que pensei na infância, pode sim, se materializar. Que tive uma festa de 15 anos, porque queria dizer a todas aquelas pessoas que foram, que são muito especiais. Que tatuei uma coroa, porque assim como a Rainha Elizabeth para a Inglaterra, minha mãe ocupa o papel central na minha vida. E os três pássaros no pulso, porque quero ser independente, viajar para muitos lugares, me sentir livre e ir para onde sou feliz. Que voei de asa-delta, porque queria ver a cidade que mais amo do alto e me sentir livre, como minhas três andorinhas. Todo sonho carrega partículas de quem somos. Toda realização de um sonho conta um pouco do que pensamos no escuro do quarto, com a cabeça no travesseiro. Conta aquilo que ninguém vê, mas que tem uma bagagem enorme de sentimentos que investimos.
Casa é onde meu coração está. E, se o coração é meu, coloco onde quiser. Jamais duvide daquilo você quer ou ama. Nunca torça para que o outro quer, não aconteça. Casa é quem queremos ser para o mundo: a alma, o que ela deseja para si. Minha casa é tudo que desperta amor em mim.
Imagem: We Heart It
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