Leia ao som de "A vida não presta", de Léo Jaime.
Veja que boba sou,
estou aqui escrevendo sobre e para você. Agora fora do meu moleskine vermelho.
Meio na lua, que hoje está em eclipse, meio aí na sua casa (em pensamento). Sei
que, caso estivesse aqui, riria com tamanho desconcerto e com o corar das
minhas bochechas, como em todas as vezes que penso em você. Quando cruzou
aquela porta, te achei estranhamente bonito, mas também pensei que sua camisa e
sua bermuda não combinavam muito. Eu quis saber seu nome, mas não tanto quanto
o de um outro garoto que chegou antes. Você falava de um jeito engraçado e, ao
mesmo tempo, irritante, então eu preferi te achar apenas irritante. Mas de vez
em quando meu escudo falhava, e eu soltava uma risada discreta por uma de suas
piadas (droga!). Implicava mentalmente com tudo o que dizia e até com o que eu
achava que você estava pensando. Você parecia não achar nada de mim. Até eu me
meter em confusão e passar a ser uma semi-heroína fruto da sua ingênua
imaginação.
Eu parei de falar de
você e passei a falar sobre você. E a te achar inteligente. E engraçado. Você
não é bobo como imaginava, confesso. Na verdade, é bastante engraçado. Adoro o
quanto é justo. Quando vê algo errado, fica sério e ainda mais bonito. Pode até
ser que seja só um adolescente impulsivo, mas até seus impulsos revelam o
coração bom que tem. Às vezes, eu paro e fico te admirando. De soslaio. Não dou
o braço a torcer.
Se pudesse, voltaria
àquela festa e te responderia diferente. E dançaria com você. Talvez até te
roubaria um beijo, mas todas aquelas pessoas nos olhariam e eu prefiro quando
estamos só nós dois. Voltaria aos cinco minutos em que falava sobre meu medo do
futuro despretensiosamente e você parecia não duvidar nem um pouco de que tudo
daria certo. Também gosto desse seu lado.
Azul turquesa é minha
cor favorita desde que saí da fase Barbie e “patricinhas influentes da escola”.
Azul turquesa é a cor dos seus olhos
assustadoramente hipnotizantes (às vezes eu desvio o olhar de agonia do quanto
eles são bonitos, você percebe?). E, ainda mais, você é fã de Lulu Santos e
cantarola Skank por aí. Odeio ter descoberto essas coisas. Elas me fazem pensar
em você e no quanto ficaria lindo usando preto. Aliás, você não tem nenhuma camisa
preta, não é? Pensando no fato de eu não estar aqui antes, ainda bem que não
tem.
Mesmo que seja só uma
grande brincadeira ou gozação da vida, algo me diz que, caso não seja agora, vamos
nos esbarrar por aí, tomar uma taça de vinho e lembrar que não sou atraente
comendo McDonald’s e que você dormia escorado em qualquer lugar. Mas espero te
reencontrar amanhã e não daqui a três anos. Desde que notei quem realmente é, não
quero esperar mais que um dia até te ver novamente.