Eu planejei coisas
paras as férias e fiz quase todas. Fiquei ansiosa para começar no emprego novo
e, nossa, quanta coincidência receber essa proposta. Eu penso nisso desde
criança. Pensei no curso; em como comemoraria essa oportunidade. Não estava
satisfeita com o lugar onde estudava. Mudei. Deixei tanta gente que amo para
trás. E fracassei num relacionamento fracassado. O que acontece agora? O que
acontece depois de tudo o que um dia a gente chamou de depois? É só viver
normalmente e ficar esperando? Eu não sei fazer isso. Costumo fazer o plano A,
e o plano B; e o C, só por precaução. Quando todos os planos acabam, o que as
pessoas fazem? Por favor, me conte. Porque eu já liguei a televisão. E já li
todo o livro de História. Eu já visitei meus avós e também fui a um barzinho. Eu acordo todos os
dias esperando que hoje (meu Deus, tem que ser hoje!), eu encontre alguma
resposta. Sei lá, a minha casa tem estado desconfortável e, os assuntos com
meus amigos, sem graça.
Já se afogou? Pois
bem. Eu tenho muito medo de mar. Acho que ninguém sabe, mas toda vez que vou à
praia, fico observando o mar. As pessoas acham isso poético ou que é apenas
admiração. Mas, na verdade, fico imaginando como deve ser a sensação de estar
se afogando. Fico imaginando como é perder o ar e não ter lugar algum para
segurar e poder respirar novamente. Imagino o desespero de engolir água e de tentar bater os pés, e ainda gritar ao mesmo tempo. Tenho me sentido assim. Aliás, esse é o
conceito que criei para a sensação mais abstrata que ando carregando: a de
estar sufocada e não ter onde segurar. Quando eu fecho os olhos, sinto a falta
de ar. Sinto as bolhas saindo pelo meu nariz. Sinto a força da água.
Já pensei que talvez
eu só seja alguém que nunca está satisfeito com o que tem, mas é que, como é difícil...
Estou em um lugar que não quero mais estar. Gosto da minha casa e do cheiro do
meu quarto, mas as ruas me olham com rispidez. É utopia acreditar que posso me
satisfazer só com o que está da porta para dentro. E todo o resto da cidade? Eu
quero isso: a cidade.
Eu quero poder querer
o que quero. Sem as palavras empurradas para minha boca, sabe? Sem essa
necessidade de dizer o que diriam, porque eu não diria. Eu não. Eu.
E agora? Agora é o que chamei de “depois” há
uns meses. E eu não conseguia enxergar que o depois tinha um depois. As pessoas
me cumprimentam no ônibus e minhas amigas falam sobre o cinema de ontem, mas
ninguém sabe responder a todas essas perguntas que carrego, dia após dia, para
o meu travesseiro. Ninguém sequer vê que
ando por aí com uma interrogação na testa. O que vem depois de você ter feito
todas as coisas que sabia que poderiam ser feitas?
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