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 Trezentos e sessenta e cinco dias. O sonho de menina que se tornou real. Festa para celebrar a vida, a perspectiva que se tem dela. Pintei meu cabelo cinco vezes e decidi que nasci para ser ruiva (sabe-se lá até quando). Fui a um protesto e organizei outro. Protestei, gritei comigo mesma na frente do espelho e dei um basta em todos os rótulos. Tornei-me eu: alguém que só deseja ter tempo para ser e fazer tudo que sempre sonhou.
 Apaixonei-me e fui apaixonante. Deixei-me ter um beijo roubado. Roubei um coração e, o meu, permanece aqui comigo. Descobri na tinta da caneta o porto seguro para todos os segredos não revelados e para os sentimentos guardados. Enviei uma carta. Ouvi dizer que o que escrevo alivia outras almas aflitas.
 Reduzi-me a gente: sem nenhuma pretensão de ser perfeita ou bonita. Quero fazer jus ao meu nome e fazer feliz. Terminei o cursinho que me prendia às sextas e hoje reclamo do tédio nesse mesmo dia. Entrei para o curso que me fez descobrir quão delicioso é ser outras pessoas e entregar-se a elas; o quanto é legal ser boa em não ser eu.
  Fui a uma balada. Dancei como se ninguém estivesse enxergando o quanto sou desajeitada, mas queria ter dançado até amanhecer. Decidi me fazer de folha de papel: rabisquei a pele. Eternizei com agulha e tinta as coisas das quais quero lembrar até morrer.
 Engordei 8kg, passei a usar menos maquiagem e troquei o salto agulha por sapatilha. Meu coração se sente acolhido na simplicidade. Virei mãe de uma yorkshire que tem mil apelidos, que é um doce, um Mel. Aprendi a gostar de lambida na cara pela manhã.
 Li mais livros que em toda minha vida. Senti necessidade de ser lida e, por isso, estou aqui. Para ser descoberta, para ser ouvida e por amor. Tchau, quinze. Mais trezentos e sessenta e cinco, por favor.

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