Uma razão


(Leia ao som de Just Give Me a Reason- Pink)


 Sei que, por sua doçura não me falaria isso, mas fui mais cretina que todos os homens que já critiquei na vida. Fui uma cafajeste com você e nem sei se a palavra cafajeste pode ser usada para um substantivo feminino, mas eu fui. Sei também que nenhum outro aturaria, e cheguei a gritar isso na frente do meu prédio numa noite chuvosa, quando você disse que não desistiria, que via luz nesse túnel sem fim, nesse abismo que sou.  E eu berrei. Chamei-lhe de otário e perguntei como não percebia o fato de só te procurar quando eu realmente precisava. E você respondeu que se orgulhava, porque era uma forma subliminar de demonstrar que eu vi segurança em você. Que eu via abraço certo e porto seguro.
 Confesso que, quando não estava desesperada atrás de quem me ouvisse num domingo à noite, pós-pé-na-bunda, sentia raiva de você, por ser tão bonzinho. Nunca vou esquecer o dia que me falou que, a cada vez que trocava meus beijos e minha companhia por uma noite no restaurante mais caro, eu me prostituía. E lembro também de ter respondido que, se é assim, você era o único que não pagava, porque os outros caras me levavam para lugares realmente bons e à minha altura. Desculpa. Descobri que, na verdade,  é o único que me leva para o lugar onde mais amo estar: a minha casa. Os outros me pagavam um táxi. Há também as tardes no Ibirapuera, o parque de diversões e o dia em que fui pela primeira vez na montanha russa. Agarrada no seu braço, é claro. Você me fazia vencer meus medos. Agora, estou me jogando numa queda livre, que costumam chamar de amor.
 Dê-me uma razão para ficar. Além do fato de ler meus textos e elogiá-los mesmo sabendo que não lhe escrevo nem um recado na geladeira. Além de ter subido 12 lances de escada no dia que faltou luz aqui no prédio só porque liguei dizendo que tinha pânico de escuro. Naquele dia, você me disse que todo mundo tinha vontade de dizer alguma coisa enquanto não era visto e que, já que estávamos no breu, queria dizer “eu te amo”. Eu calei. Não por ignorar, mas por consentir. Consentir que também amava e tinha vontade de dizer. Diferente dos sócios da empresa, dos pseudofamosos, dos graduados no exterior, você sabia fazer uma coisa como ninguém: respeitar o meu tempo. O tempo que demoro a me arrumar. O tempo de ficar calada. E sabia que amava tempo chuvoso. Você sempre soube de todos os meus tempos, do passado e do presente. E por falar nisso: ainda tem tempo para mim? Quer ser meu futuro? 


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