Dia das Crianças



Acordei às dez, um pouco mais cedo do que acordaria num outro feriado qualquer. Não é que eu seja tão dorminhoca assim, eu durmo tarde, ainda mais quando a Mayra está aqui. Brincamos a madrugada toda e dormimos no pouco espaço que restou no meu quarto sem brinquedos espalhados. No fundo, já sabia o que ganharia da minha avó. Fui eu mesma que escolhi: boneca bebê. A surpresa sempre fica por conta da minha mãe, isso quando ela não se rasga por dentro de tanta ansiedade e me entrega o presente três dias antes.

Dessa vez, sei lá por que, ela conseguiu manter em segredo. Acho que nenhuma palavra descreveria minha alegria ao ganhar aquelas casas da Barbie. Todas de madeira e pintadas à mão pelos meus pais, de rosa e roxo. Ganhei Barbies e a Mayra também. Nossa primeira reação foi sair pela casa catando tapetes para forrar na sala e fazer nosso condomínio da Barbie. Varamos madrugadas. Odiava a hora de me despedir da minha melhor amiga. Era um "tchau" como se o próximo final de semana não existisse. Doía me separar a cada domingo dela. Mas na sexta, esquecíamos o mundo: existiam para nós apenas um quartinho cor de rosa e a infinidade de pessoas que podíamos ser em nossas brincadeiras. Infância, doce infância.

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Ana Livia (prima-irmã) e eu, aos 4 anos

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Eu (3) e Mayra, minha melhor amiga (6)

 Narrei, misturando os fatos de alguns anos, como era o meu Dia das Crianças. Escrever sobre isso e rever as fotos me trouxeram uma nostalgia que não sei se é boa ou ruim. A infância traz um misto de sentimentos e lembranças. O ruim é saber que essa fase acabou. Me lembro de até uns dez anos de idade, dizer: "eu não quero crescer". Com o tempo, só percebi o quanto estava certa ao dizer isso. Não que eu não goste de ser adolescente, de ter amadurecido (até um pouco além da minha idade, inclusive). O que causa a dor não é o fato de ter crescido, e sim, perceber que hoje eu encaro o mundo de outra forma. Aquela doçura e inocência da infância, ainda tento conservar. Encarar que as outras pessoas é que perderam isso, me faz querer criar uma máquina do tempo.

 Cada um tem o seu tempo de crescer e de ser crescido. São coisas diferentes. Acho que agora estou passando pela tal crise de identidade que todos passaram ou passarão um dia. E isso é criar um elo entre o passado e o futuro. E, vou te dizer ó: dói.

 Feliz dia das crianças. Conserve isso! Crianças são sinceras, esperançosas, doces e inocentes. Falta de atitude tem outro nome. Por isso, não tenha vergonha de ter um espírito infantil. Até diria que, hoje em dia, isso é para poucos, mas na verdade, é para quase ninguém.

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