Ler ao som de "I'm with you", da Avril Lavigne.
Depois de as flores renascerem, vem, enfim, o verão. Nunca
foi minha estação favorita, mas tudo fica a flor da pele, assim como a gotas de
suor. É quando, finalmente, os compromissos são menos ferrenhos e estão
espaçados por semanas preguiçosas. E podemos nos ver. É quando o ano nasce,
ainda sem a carga de obrigações, que posso concretizar com você a minha
preguiça no meio da tarde. Nós tiramos e botamos nossas camisas com mais
frequência e deitamos na rede da casa de nossas avós para conversar sobre
banalidades. Temos tempo para cafunés e artigos sobre a economia do país,
fazendo pequenos intervalos que variam de cinco minutos a duas horas para nos
beijarmos.
Não gosto tanto de
praia, mas adoro ver você tirar a camisa para entrar no mar, e fantasio metade
de uma strip-tease e chego a esquecer todas as outras pessoas que aglomeram
nosso espaço na areia. Sei que também não pensa boas coisas a meu respeito
enquanto espalha o protetor na minha nuca. Mas fico feliz quando as folhas do
calendário passam até a fase em que as flores caem e, já de longe, você me
deseja uma boa noite. Nosso desejo é preenchido de bem querer.
E quando, no meio do
verão, o termômetro marca 27° e o calor nos concede sua graciosa trégua, usamos
isso como pretexto para eu não ir embora para casa e fico contando quantos
brinquedos do Mc Donald’s há na sua estante e acho uns presentes bonitinhos de
ex namoradas e, então, conversamos sobre Mario Kart e traição, e ainda edito suas fotos. O que nos
mantém, além de um enorme prazer em despir um ao outro, é toda essa
reciprocidade e fidelidade de entender as coisas com o olhar (e dizer outras
com a boca, para que o outro não se sinta ao léu). Gosto do cheiro de madeira
dos móveis planejados para a sua versão de 14 anos,e gosto também das comidas
do café da manhã da sua casa. Mas eu realmente adoro a maneira como sua mãe
acredita que venho só para jogar video-game e me trata como uma filha.
Sinto-me
incrivelmente livre de poder sair para um barzinho com as minhas amigas ao
sabádo e saber que você não fez muito diferente disso. Você não coloca nosso
respeito como preço pela minha liberdade. É verão e podemos sair de mãos dadas
ou não. Ficar juntos ou não. Sair com todos os nossos amigos separadamente. E
estaremos aqui um pelo outro com muita verdade, porque é isso que somos e temos
a oferecer. É natural a ponto de não sentirmos a necessidade de nomear isso, é
apenas a tranquilidade de deitar no peito de alguém de quem é bom estar junto. É verão e eu gosto da sua pele morena, dos seus livros de cara mais
velho, das suas explicações sobre Relações Internacionais e do seu beijo.
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