Leia ao som de "Rise Up", da Andra Day.
Eu ouvi a mesma
música três vezes para ver se a melodia melancólica me fazia colocar para fora
o que sinto, mas no início da quarta, percebi que era uma grande besteira querer
externar um sentimento que sequer entendo. Talvez deva admitir que as coisas
não estão sob o meu controle e que de agora em diante tudo deve ser sentido
gradativamente, conforme acontecer. Vasculhei meu próprio perfil e revi nossas
fotos, e pensei no quanto parecíamos uma coisa só há bem pouco tempo. Não sei
ao certo se nos desgastamos ou se era apenas uma fase de quem está crescendo e
fazendo escolhas, mas os últimos meses foram um pouco frios. E eu lamento não
ter percebido que estávamos nos despedindo, e não amadurecendo para dar um
passo adiante. Creio que tenhamos perdido tempo ao medirmos ego para ver quem
pediria desculpa primeiro. Este é o momento: devemos ser realistas, baixar a guarda e pedir perdão por termos
desperdiçado um tempo que, possivelmente, não teremos adiante.
Apesar da culpa pelo
que não foi dito, mas deveria ter sido, o que realmente nos abala é a nostalgia
por tudo o que dissemos e vivemos. Porque se nossos bons e maus momentos
fizessem uma queda de braço, não preciso dizer que nosso fricassé e brigadeiro
venceriam. É difícil substituir seu rosto pelo de alguém imaginário, que vai
tomar seu lugar na cadeira da cozinha enquanto preparo algo. Não consigo sequer
cogitar que serei tão desinibida nos ensaios fotográficos que invento, se outra
pessoa estiver atrás da câmera. Acho que nunca nos questionamos como seria se
não desse certo.
Fico pensando quanto
tempo tudo levará para se estabilizar. Em quanto tempo teremos a sensação de
que esse sentimento confuso, de dúvida e mudança, sumirá? Temo sentir a dor da
ruptura durante muitos meses ou anos, não sei. Ou de um de nós mandar parabéns
só nos últimos minutos do aniversário do outro, porque sei que causaria uma
grande chateação. Cinco anos são um bom tempo para as coisas ficarem intactas.
Ainda mais quando se trata de pessoas tão camaleônicas como nós.
Eu, sinceramente, não
sei se recusou meu convite para o cinema na sexta-feira por ter mesmo um
compromisso ou porque estamos adiando encarar os fatos. Uma hora teremos de nos olhar e dizer aquelas palavras acerca de partidas, lástimas e apreço.
Espero que até lá algo mude milagrosamente a ponto de substituirmo-nas por
frases exclamativas de comemoração e espanto por sermos agraciados por Deus com
a bênção da eternidade (ou algo parecido, ou que ao menos nos faça acreditar que isso
existe). Mas, caso realmente tenhamos de lidar com a dureza da vida adulta,
vamos fingir que todos os dias foram como as nossas viagens e que tudo o que
sentimos foi o que registramos nas fotos.
Imagem: We Heart It.
Nenhum comentário
Postar um comentário