Leia ouvindo "Farsa", da Manu Gavassi.
Hey, garoto, talvez seja a hora de esclarecermos o que ficou pendente do nosso ano desperdiçado. Poderíamos falar sobre como nos conhecemos e meu arrependimento por não ter trocado aquela noite por Netflix, mas hoje é você quem senta aí para me escutar. Os seus pedidos de desculpa e beijos não são bons argumentos quando, agora, tem alguém que pode descobri-los.
Não vamos falar sobre
suas ligações há menos de dois meses com saudade do meu perfume no seu carro e
suas premissas pouco criativas para vir me buscar, nem de todas as fotos
curtidas para sinalizar “preciso de você aqui”, muito menos do “eu não tenho
nada com ela”. Hey, relaxa. Isso é um segredo nosso. Se ela puder te levar para
bem longe, ela é mais um presente para mim que para você.
Esqueçamos suas
crises de ciúme e seus interrogatórios sob a prerrogativa de preocupação, das
mensagens justificadas por excesso de álcool e dos telefonemas com o pretexto
de reatar a amizade que jamais antes existiu. Você é um grande borrão na minha
memória, é como ter estado todo este tempo bêbada: eu me diverti bastante, mas,
depois, a cabeça doeu. E agora eu não lembro de nada.
Prometo não contar
para ninguém sobre as quatro vezes que te deixei para tentar descobrir o resto
da vida e você correu para segurar o meu pé (e, logo em seguida, beijá-lo). Nós
temos esse pacto de silêncio e eu faço questão de nunca quebrá-lo, porque eu
quero cair no seu esquecimento absoluto, assim como já fiz.
Garoto, você é a
minha amnésia favorita, porque nunca antes gostei tanto de esquecer algo. E
quando me dizem que esbarraram com você na praia ou na rua, eu expresso tanto
sentimento quanto se me dissessem que uma mariposa posou num cágado (ou ainda
menos). Espero, sinceramente, que um dia lide com isso como alguém da sua idade
e não como uma garotinha mimada que quer algo que os pais não podem comprar. Hey, tô fora.
Imagem: clipe de "Camiseta", da Manu Gavassi.
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